Ao longo dos anos como ortodontista, uma das maiores lições que aprendi na prática clínica é que a boca nunca conta a história toda sozinha. Muitos dos sintomas que observamos no consultório, como alterações na mordida, cansaço excessivo, dificuldades escolares ou irritabilidade em crianças, não têm uma única origem. E, muitas vezes, a respiração bucal está no centro dessa trama.
A respiração pela boca, em vez do nariz, é um sinal de que algo no corpo não está funcionando como deveria. Pode estar relacionada a obstruções nas vias aéreas, inflamações crônicas, amígdalas aumentadas, rinite, desvio de septo ou até hábitos adquiridos ainda na infância. O problema é que ela afeta muito mais do que apenas a parte estética ou dentária: impacta o sono, o crescimento facial, a fala, o rendimento escolar e o comportamento.
É aí que entra a importância da consulta integrada. Ninguém deve cuidar de uma criança ou adolescente com respiração bucal de forma isolada. Um diagnóstico completo exige o olhar atento de uma equipe: o ortodontista que observa as estruturas faciais e dentárias, o otorrinolaringologista que avalia a parte respiratória, o fonoaudiólogo que acompanha a função oral, o pediatra que monitora o desenvolvimento geral e, em muitos casos, o psicólogo, que pode identificar questões comportamentais que surgem como consequência.
Em um atendimento integrado, conseguimos ir além dos sintomas e chegar à causa real. Em vez de mascarar os efeitos da respiração bucal como dificuldade de concentração ou irritabilidade com tratamentos isolados ou medicações desnecessárias, buscamos soluções que tratam o problema na raiz. Isso significa melhorar a qualidade do sono, garantir que a criança cresça respirando bem, dormindo melhor, falando com clareza e com mais disposição para aprender e se desenvolver.
É esse olhar ampliado que transforma o cuidado. Quando profissionais atuam juntos, cada um com sua especialidade, o paciente ganha um caminho mais curto, mais seguro e mais eficaz para alcançar saúde e bem-estar.
Se você suspeita que seu filho respira pela boca, ou se ele apresenta sinais como sono agitado, ronco, boca aberta durante o dia, irritabilidade ou dificuldades escolares, saiba que há muito o que pode (e deve) ser investigado. E tudo começa com uma escuta atenta e uma equipe que trabalhe de forma integrada.
Porque quando tratamos juntos, os resultados vão muito mais longe.